As questões sociais como a desigualdade econômica, preconceitos, violência, foram e serão minhas preocupações. A formação em Ciências Sociais acentuou esse olhar. Esse lugar de onde vim, onde eu era parte da classe dominada, fruto de dificuldades econômicas e marcas de carências culturais, transmutei desde cedo através da arte, esteticamente buscando o equilíbrio para meus questionamentos pessoais.
Escolhi a joalheria como expressão por representar essa possibilidade, de limpeza através do fogo, das pedras que foram um dia carvão, areia, rochas que sob forte pressão se tornaram límpidas, brilhantes.
Mais recentemente, durante uma crise de identidade na minha criação, veio a pandemia e a obrigatoriedade de intensificar esse olhar interior. O resultado vem se traduzindo na Coleção Caminhos, um trabalho ainda em elaboração. Os possíveis caminhos que poderão trazer novas rotas, escolhas. Usei pedras que representam o sentido de mapas, rotas. E o necessário aconchego e as memórias afetivas. Levo em conta também o cuidado com o meio ambiente: prata reciclada, restos de fios de cobre de eletricidade, sucata de ferro, porcelana Paper Clay, reutilizando filtros de café. E pedaços de madeira de uma jabuticabeira como elemento símbolo do sentimento de força e afetividade.
Nas esculturas, outra pesquisa que venho desenvolvendo, destaque para os materiais naturais devolvidos pelo mar, transformados eles também: madeiras, raízes, sementes. Ainda uma vez, outros elementos são agregados para traduzir essa noção de tempo e de espaço.