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Nota sobre a gravação* do dia 8 de novembro de 2018 – Acompanhamento com Carolina Paz

Por Jociele Lampert

*”Gravação”  porque nosso grupo de acompanhamento de projetos e processos artísticos acontece online. Nos encontramos ao vivo na internet, quintas-feiras, pela manhã e quando um de nós não pode estar presente temos as gravações para assistir e colaborar de forma assíncrona. Este formato tem se mantido assim há mais de 3 anos, pelo menos. Apesar da vontade de estar juntos fisicamente, o que ocorre quando dá, essa metodologia tem dado muito certo e os resultados no desenvolvimento de cada um é real. Os vínculos são mais que reais também. 

Meu olhar incide sobre as metodologias artísticas da pesquisa em arte ou sobre arte que cada artista apresenta, compreendendo também a possibilidade de visualizar documentos de trabalhos no processo criativo de cada artista. Assim, seguem minhas reflexões, partindo da observação no acompanhamento que a artista professora Carolina Paz desenvolve com artistas.

Sobre o trabalho New York Surface Stories da artista Lara Perl

Cartografar é habitar um território existencial; ter princípios, critérios e andarilhar em um contexto experienciado. E, de certo modo, é a ênfase na dissolução do ponto de vista do observador. Um trabalho cartográfico não representa, e sim apresenta conceitos, que margeiam Arte & Vida. Tampouco apresenta sua materialidade em mapas somente, mas, por meio de redes, instaura processos que invadem o autor/artista, a obra/coisa e o observador/contexto. E assim, criam-se teias, desenhos, camadas e sobreposições que configuram uma composição de um tecido vivo.

A investigação que a artista Lara Perl desenvolve neste momento, aborda o pensamento visual no campo do sensível, ou teoria e prática, ou mais propriamente entre a razão e o sonho, no que habita a presença e a ausência. Um artista cartógrafo ou etnógrafo colhe dados, histórias, sonhos e fragmentos, e utiliza isso como seu documento de trabalho. A própria história, quando contada, escrita em forma de diário, deambula a ficção. Eis a produção de subjetividade que o trabalho de Lara alcança neste momento. Não se trata de mais uma pesquisa-intervenção seguindo um método cartográfico, mas avança sobre seu processo criativo, no momento da escuta e da colheita de outras histórias, imagens, objetos e fragmentos, tornando singular a história ficção do Outro.

O trabalho torna-se coerente com a operação artística que é nutrida pela intimidade, pela singularidade de sua busca afetiva. A pesquisa também faz lembrar outros projetos similares: Post-it city. Ciutat ocasionales e Idensitat (ambos no formato da arte participativa e colaborativa), onde artistas colhiam histórias e as transcreviam de forma poética em pensamento visual e proposições participativas, sendo que o objeto artístico está na consolidação de um gênero criativo cujo horizonte seria o próprio contexto social das interações humanas.

Referências
FOSTER, Hal. O retorno do real. São Paulo: Editora Ubu, 2017.
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da. Pistas do método cartográfico: pesquisa-investigação e produção de subjetividade. Porto Alegre: Editora Sulina, 2015

E-referências
http://www.ciutatsocasionals.net/homepage.htm
https://www.idensitat.net/ca/

Sobre a artista:
Lara Perl é fotografa, editora e artista visual. Investiga os limites da palavra e da imagem fotográfica entre arquivos e poéticas ficcionais, que se materializam em livros e outras invenções gráficas. Em 2016, realizou Temporal, sua primeira exposição individual, e fundou a GRIS – editora independente que publica fotolivros, zines e livros de artistas baianos. Nos últimos anos, vem participando de diversas feiras e exposições coletivas como o Festival de Fotografia do Sertão (Feira de Santana, 2015), Lambes na Laje (São Paulo, 2015-2016) e Miss Read Art Book Fair (Berlin, 2017). Também tem obras na coleção permanente do Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana e atualmente cursa mestrado em Processos de Criação Artística no Programa de Pós-Graduação de Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia (PPGAV-UFBA).

Imagem do ateliê da artista em residência Uncool Artist em Nova York
O discurso poético de Gustavo Moreno

O pensamento visual é uma modalidade de pensamento essencialmente não verbal. É um pensamento instaurado a partir dos formantes da forma, dos formantes da cor, das questões espaciais, independentemente de qualquer conteúdo narrativo ou de compromisso com o conteúdo visível. A pintura depois da pintura é o desafio que o artista Gustavo Moreno  encontra em sua pesquisa atual, pois, trabalhando com o regresso pictórico como um processo híbrido entre pintura, escultura e objeto arte, o trabalho adentra o campo da cultura visual.

A linguagem pictórica é um elemento para a constituição do trabalho, que consiste mais da leitura sobre signos e símbolos mesclados ao escorrido de velas e à junção de materiais como madeira, cordões e pequenas imagens. Olhadas ao longe, sem conexão aparente, mas vistas de forma próxima, possibilita ao espectador um rastro de narrativa. O trabalho desprende-se da parede, parece flutuar ou criar outra atmosfera de instalação, derivando um ritmo diferenciado, que poderá seduzir pela cor.

Inicialmente, porém, trata-se ao aproximar-se da construção de imagens que discutem o sagrado e o profano, seja no processo de hibridação das linguagens, seja na costura dos elementos sincréticos, seja no lugar que tais imagens ocupam no imaginário e no cenário atual. Há uma busca pela linguagem própria, pelo conceito de apropriação e montagem. Tais elementos instigam a busca por seus documentos de trabalho (a própria materialidade). O artista ainda, investe sua poética na direção da pop arte, evidenciando uma visualidade próxima, ao  mesmo tempo com conotação difusa, repleta de questionamentos.

Referências
BRITES, Blanca; TESSLER, Élida. O meio como ponto zero – metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene (orgs.). Processos e práticas de pesquisa em cultura visual e educação. Santa Maria: Editora da UFSM, 2013.
SABINO, Isabel. A pintura depois da pintura. Lisboa, Portugal: Faculdade de Belas Artes – Universidade de Lisboa, 2000.

Sobre o artista:
Nascido em Salvador-BA, no ano de 1969, formou-se em licenciatura em Artes Plásticas pela UCSal-BA, em 1992. Mudou-se para São Paulo em 1997, onde montou seu atelier. Participou da Bienal do Recôncavo, em São Félix-BA e do I Salão de Arte Contemporânea do Consulado da Holanda. Em 2000, realizou exposição individual no MAM-BA. Em 2002, concluiu sua pós-graduação na Universidade Contemporânea, em Salvador-BA. Em 2005, foi premiado com o troféu Caboatã de Cultura e Arte. Atualmente reside em Salvador e realiza várias exposições coletivas no Brasil e no exterior.

Imagem de obra do artista, discutida no encontro em grupo
O Esboço: trabalho de Maria do Carmo Verdi

É a prática, que dita leis e prescreve, quando se fazem necessárias, as derrogações a um emprego não contraditório dos conceitos. A artista Maria do Carmo Verdi deambula sobre seu fazer de forma exaustiva em seus processos, na busca pela plasticidade do pensamento visual e na instauração dos conceitos. Trata-se de uma artista pesquisadora, que lança sem receio o desvio de si mesma e daquilo que já fez. O documento de trabalho da artista, para além da linguagem, é o próprio processo híbrido, pois mescla pintura, escultura, objetos, fotografia e vídeo.

Em seu Esboço (vídeo apresentado e ainda a ser finalizado), ela dialoga com elementos da cultura visual e da sociedade do espetáculo. O trabalho, ainda em construção, aponta para diferentes materialidades e finalizações, porém deixa margem para diferentes leituras sobre seu contexto. Trata-se de uma topografia do espetáculo, do lugar onde vivemos, da criação de sujeitos para mercadorias, e não mais o contrário. A iluminação sépia, por ora, lembra o cotidiano da cidade, quase taciturna, mas ainda prenhe de violência e ruídos. É quase perceptível o som dos tiros, sirenes, ambulâncias e bombeiros; dos massacres que sofremos ao habitar as cidades em que vivemos, ou mesmo, das cidades invisíveis com silenciosas passagens, repletas de insegurança.

Por outro lado, o vídeo traz uma leitura conceitual da cultura visual, da arte como produção da cultura, do lugar onde se vive, ou da criação de manifestos políticos (lembra os trabalhos de Antoni Muntadas).

Referências
BRITES, Blanca; TESSLER, Élida. O meio como ponto zero – metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
NOVAES, Adauto. Muito além da sociedade do espetáculo. São Paulo: Editora Senac, 2005.

E-referências
https://www.museoreinasofia.es/en/publicaciones/muntadas-entrebetween

Palavras da artista:

Meu nome é Maria do Carmo Verdi e sou artista visual.
Minha formação acadêmica foi em artes plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a não acadêmica através de muitos outros cursos que foram aparecendo pelo caminho. Inicialmente me dediquei à gravura e a pintura, depois trabalhei por vários anos com tecidos, tingindo, pintando, bordando e criando padronagens.
Hoje, transito entre desenho, pintura, escultura, instalação ou video. Meu trabalho é principalmente figurativo. A cor é um desafio permanente, gosto de exagerar em saturação e contraste. Uso tinta acrílica, guache, spray sobre superfícies variadas. Objetos populares de plástico me atraem particularmente mas também qualquer outro que me intrigue, faça sentido ou possa se encaixar em algo que estou produzindo.
Interesso-me pelo movimento da vida, organismos complexos, corpos híbridos. Como funcionam, se articulam, conectam, perseveram, crescem, transformam, desaparecem para reaparecer diferentes, mais complexos. Sempre e por toda a parte.
Na minha pesquisa atual, venho pensando sobre este jorro de informações que vivemos através das redes sociais e mídia em geral que borra fronteiras e produz variadas “realidades”.

Still de vídeo da artista apresentado no último encontro do grupo

*Professora Dra. Jociele Lampert. Professora Associada na Universidade do Estado de Santa Catarina. Desenvolveu pesquisa como professora visitante no Teachers College na Columbia University na cidade de New York como Bolsista Fulbright (2013), onde realizou estudo intitulado: ARTIST’S DIARY AND PROFESSOR’S DIARY: ROAMINGS ABOUT PAINTING EDUCATION. Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP; Mestre em Educação pela UFSM. Possui Graduação em Desenho e Plástica – Bacharelado em Pintura, pela Universidade Federal de Santa Maria e Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria. Orienta no Mestrado e Doutorado em Artes Visuais PPGAV/UDESC na Linha de Pesquisa de Ensino de Arte e na Graduação em Artes Visuais DAV/UDESC. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Arte, Educação e Cultura UFSM/CNPq. Membro/Líder do Grupo de Pesquisa Entre Paisagem UDESC/CNPq. Coordenadora do Grupo de Estudos Estúdio de Pintura Apotheke (UDESC). Tem experiência na área de Artes Visuais, atuando principalmente nos seguintes temas: pintura, arte e educação, formação docente. É membro associado da ANPAP. É membro participante da comunidade Uncool Artist, com acompanhamento da artista professora Carolina Paz. Site: https://www.jocielelampert.com.br

Imagem destacada: Post-it city. Ciudades ocasionales