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Escrevendo em Arte (Parte 1 de 2)

O artista escolhe o que fazer e escolhe fazer arte ao invés de fazer um texto, ou às vezes, escolhe fazer um texto, mas de forma diferente do que faria um texto filosófico. Porém, feita essa escolha, isso não significa que eles são incapazes de escolher a alternativa. (Robert Storr)

Na arte, diferente de muitas outras disciplinas acadêmicas, a escrita não é a forma principal de comunicação. Imagens, objetos, e outros materiais alternativos são. Mas, da mesma forma que talvez não esperaríamos que artistas publiquem artigos em jornais ou apresentem teses em conferências, eles por várias vezes precisam discutir seu próprio trabalho e o trabalho de colegas.

Tornar-se um escritor efetivo e articulado só pode beneficiar sua prática do fazer arte. Pode ajudar você a convidar outros para a conversação sobre seu próprio trabalho, engajar um discurso crítico sobre história da arte e teoria, ou comentar novidades da arte contemporânea.

ESCREVENDO O DEPOIMENTO

O objetivo principal ao escrever um depoimento do artista (ou statement) é discutir sua compreensão do seu processo, ideias e campo. O depoimento tanbém lhe dá a oportunidade de definir a conversa crítica que você quer engajar através da sua arte.

Escrever depoimentos pode ser um processo doloroso. Ele envolve o uso de linguagem escrita para expressar ideias visuais e muitas vezes requer que você discuta aspectos da sua prática artística (a qual você ainda está começando a entender). Também é um processo sem regras indiscutíveis. Existem várias orientações e dicas úteis, entretanto, aqui vamos dar uma olhada geral nessas orientações.

COMEÇANDO

Na primeiras fases do processo de escrita, é uma boa ideia ser o mais honesto possível consigo e fazer um balanço do que você sabe sobre a sua arte, o seu processo e suas ideias.

Considere perguntar a si mesmo:

  • O que estou fazendo?
  • Como estou fazendo isso?
  • Por que estou fazendo isso?
  • O que me influencia mais?
  • Como minha arte se relaciona com a arte de meus contemporâneos?
  • O que eu quero que os outros entendam sobre minha arte?
  • Estou disposto a discutir todos os aspectos do meu trabalho? Se sim, por quê?
Estratégias de Escrita

Escrita livre e mapeamento mental são duas das estratégias de brainstorming mais prevalentes que podem ajudá-lo(a) a trabalhar suas deias.

Escrita Livre

Escrita livre é exatamente o que o nome diz: você deixar-se escrever e despejar no papel o máximo de ideias possíveis. Você pode considerar se dar um prazo de 15 minutos para soltar ideias e razões sobre porque você faz pinturas do jeito que você faz. Você pode tornar o processo mais ativo escrevendo em grandes folhas de papel pardo ou incorporando desenhos.

Mapeamento Mental

A segunda estratégia, de mapeamento mental, pode ajudar a traçar as relações entre diferentes ideias. Mapeadores mentais costumam usar papel branco sem pauta e começam escrevendo uma ideia principal no centro do papel. Em seguida, usando as setas ou linha pontilhada, eles conectam a ideia principal com outras ideias relevantes. Por exemplo, você pode escrever a resposta à pergunta “O que estou fazendo?” No meio da página e, em seguida, use setas para mostrar como essa frase se conecta com o “como” e “porquê” da sua tomada e processo de pensamento.

Independente da estratégia que você usar para lhe auxiliar no começo da escrita, lembre-se que o processo de pensamento pode levar um longo tempo, talvez até mesmo alguns meses. Não procrastine, mas não se apresse também.

elementos chaves

No geral, um depoimento do artista deve abordar o que você faz, como você faz isso, por que você faz isso e sua compreensão do significado do seu trabalho.

o que

Como você descreve o que você faz é fundamental para a sua afirmação, mas sua descrição não precisa se alongar. Dê a seus leitores uma ideia clara do que seu projeto artístico inclui realmente. Afirmações simples como a reivindicação de Damien Hirst para fazer “pinturas perfeitamente idiotas” pode ser mais do que suficiente, desde que ela apóie sua descrição de como e por que você faz o que você faz.

Exemplos:

Eu estou fazendo uma iluminista Cápsula para o público a meditar no interior – realidade virtual na qual as pessoas podem experimentar ideias antigas do Oriente… mas eu não estou interessada em usar coisas antigas; mas sim em conectar [o público] com a vida contemporânea por meio da tecnologia que temos agora. (Mariko Mori)

Eu pinto representações com níveis variados de conexão com a realidade. Dentro desse parâmetro eu estou sondando relações de conexão e separação, semelhança e diferença, entre imagem e o próprio eu. (Rachel-Warkentin, CGU ’09)

como

O método, parece-me que, nasce naturalmente de uma necessidade e de uma necessidade também que o artista moderno encontrou de encontrar novas formas de expressar o mundo sob ele. (Jackson Pollock)

Seu depoimento deve definitivamente endereçar o método, uma vez que é o que preenche a lacuna entre suas ideias e sua produção. Como você trabalha e quais os materiais que você usa? Se você pinta no chão, porque é mais propício a acidentes e seu trabalho explora o acaso, você deve dizer isso. Se você costuma cobrir superfícies pretas com carvão, porque está interessado em redundância, mencione isso também. Você também pode descrever como você realizou trabalhos específicos, especialmente os trabalhos que você crer sejam fundamentais.

Você, no entanto, não precisa entrar em detalhes sobre as dificuldades de cada aspecto de seu processo. Apenas informe brevemente os aspectos mais importantes ou incomuns.

Exemplos:

Eu geralmente não planejo as coisas com antecedência; mas sim vou deixar isso acontecer, às vezes esperando, às vezes perambulando até chegar o momento certo. Ele chega quando eu sentir a energia, acumulada daquele exato momento e lugar dentro do meu corpo. Aí então eu começo imediatamente a performance. É um templo móvel temporário que estabeleço.  (Kimsooja)

‘Promenade’ [a obra] foi totalmente conduzida pelo contexto. As relações internas de medição e colocação relacionadas com o eixo central do local. O posicionamento das placas retangulares seguiu uma rigorosa lógica na qual as placas inclinadas para fora e na direção da linha central criavamm um contraponto assimétrico. No entanto, a percepção da escultura contradiz a lógica da sua relação com o local. Quando você anda entre as placas, você vê fragmentos, você vê parte do trabalho, você não pode compreender o todo. (Richard Serra)

por que

Quando você pergunta [Jasper] Johns por que ele fez isso ou aquilo em uma pintura, ele responde de modo a livrar-se da responsabilidade. (Leo Steinberg)

Ao explicar o “porquê” por trás de seu trabalho, você essencialmente está definindo um discurso para si mesmo.

Alguns artistas, como Jasper Johns, notoriamente evitam discutir o conteúdo de seu trabalho, e focam no físico, na composição e escolhas de materiais. Enquanto Johns consegue se esquivar com esse tipo de atitude evasiva, alguém como Marina Abramovic, que teve orgasmos durante as apresentações públicas, tem de ser mais aberto sobre as motivações psicológicas e pessoais de seu trabalho.

Crie estratégias cuidadosamente nesta seção do seu texto também seja seu editor. Se você quer, por exemplo, que seu trabalho seja discutido em termos de feminismo, aborde questões feministas. Porém se, mesmo sendo influenciado por artistas feministas, o feminismo não é crucial para o significado do seu trabalho, deixe o feminismo de fora.

Exemplos:

Quando eu fiz a peça Vermelho Goya (Red Goya), um díptico onde duas cópias do mesmo negativo se justapõem em formatos de 40 × 30 e 24 × 20, eu queria forçar um engajamento com a questão do gosto do espectador, para examinar o poder do manifestação física da imagem alterar a sua impressão sobre uma pessoa. A impressão maior tem mais autoridade por causa de sua relação com a visualização corpórea em um espaço, como algo que você não pode absorver em um piscar de olhos? Algo que envolve você? Ou é a impressão menor mais poderosa com a sua resolução mais elevada? Mais uma joia preciosa na sua intensidade de cor? Mais preciosa em sua escala? (Eileen Quinlan)

Meu novo trabalho trata do esvaziamento do meu corpo: ‘Barco esvaziando, entrando no fluxo’ (‘Boat emptying, stream entering’). Isso significa que você tem que esvaziar o corpo/barco até o ponto onde você pode realmente ser conectado com os campos energéticos ao seu redor. Eu acho que os homens e mulheres em nossa cultura ocidental são completamente desconectados dessa energia, e no meu novo trabalho que eu quero fazer esta conexão possível. (Marina Abramovic)

Eu uso a minha própria imagem construída como um veículo para questionar ideias sobre o papel da tradição, a natureza da família, a monogamia, a poligamia, as relações entre homens e mulheres, entre mulheres e seus filhos, e entre mulheres e outras mulheres-ressaltando os problemas críticos e as soluções possíveis. De uma forma ou de outra, o meu trabalho infinitamente explode os limites da tradição. (Carrie Mae Weems)

Acesse aqui a segunda parte deste post.

Imagem destacada: Marina Abramovic, Boat Emptying, Stream Enterin

Este conteúdo é uma tradução, adaptação e edição do original Writing in Art: Introduction do GCU Writing Center da Claremont Graduate University e foi publicado originalmente por 2e1.

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